16 de setembro de 1978

... e lá estava novamente
aquela jovem jogada no mundo sem ter ninguém para apoiá-la em suas aflições. De
pernas inchadas porque trabalhava como cobradora de ônibus e levantava as 3.30
horas para estar na garagem de 4:00 bater o ponto e entrar no ônibus as 4:30
horas primeira viagem para Praia Grande, mas antes tinha que passar na Cosipa
em Cubatão e apanhar os passageiros para seguir viagem. Deus como a viagem era
cansativa principalmente porque havia uma ponte Pênsil onde só dava passagem a
um só veículo e daí ficava aquela fila quilométrica e só conseguia dar duas ou
três viagens no máximo devido esse engavetamento. Do lado de fora o pessoal
aproveitava o momento daquela parada para vender água, amendoim, castanhas, sanduíches e até suco. Depois daquela grande jornada a jovem chegava na garagem
as 21:30 horas prestava contas e quando chegava em casa já passava das 22:30,
tinha que dormir para começar tudo outra vez no dia seguinte. As coisas se
complicavam, a barriga já estava aparecendo e por mais que ela tentasse apertar
com uma cinta já se notava e o pior era que o dono da empresa não poderia saber
que ela já estava de dois meses quando foi trabalhar, por ser magrinha e bonita
ele nem percebeu, fez um teste ali de contas e ela havia sido aprovada, mas
agora ele estava irado e não podia demiti-la só depois que a criança nascesse.
Por morar em Cubatão em um lugar chamado VILA PARISES era horrível, as casas
eram construídas sobre a água hoje ela sabe que ali era um mangue. Houve um
motorista que fazia a mesma linha que ela só que era sol e lua porque quando
ela estava chegando e estava saindo mesmo assim dava pra se dar um jeito, ele
pegou o ônibus dela no dia de folga e conversaram, daí ele a levou para Santos
onde ficou na casa de seus pais, só que ele era casado e havia falado para o
pai que tinha engravidado aquela jovem, Ficou morando lá até que chegou o
grande dia no nascimento. A jovem era muito honesta, portanto quando foi fazer
o pré-natal contou tudo ao médico o qual deu toda assistência e falou que
tomaria conta de seu filho já que sua esposa era estéril. No dia 16 de setembro
de 1978 ela começou a sentir contrações e se foi para o HOSPITAL DA
BENIFICIÊNCIA PORTUGUESA em Santos onde o doutor Fabrício a esperava. Ele havia
prometido fazer sua ligadura, mas infelizmente não deu tempo e as 18:00 horas
em ponto nascia o bebê, a jovem não queria saber o sexo, contudo na hora que
ele chorou ele falou ´”e um menino perfeito”. O coração daquela jovem parecia
que ia saltar de emoção, não queria vê-lo caso contrário não teria coragem de
dá-lo. Ela ficou num apartamento com mais duas, e lá pela 23:00 horas entrava
uma enfermeira com uma criança nos braços perguntando: Tem alguma mãe com leite
sobrando? A jovem falava que tinha, quando a enfermeira aproximou da jovem falou:
tem uma mãe desnaturada que deu o filho e ele está morrendo de fome. Ela grita:
saia daqui porque a mãe desnaturada sou eu. Aquela enfermeira não imaginava
como aquela jovem estava, qual o motivo de ter doado aquela criança, coisas de
Deus. Na manhã seguinte quando recebeu a visita da madrasta do rapaz que havia
lhe acolhido falou que havia doado a criança, ela queria de todo jeito cria-lo,
contudo quando soubesse a verdade iria desprezá-lo, sendo a jovem inteligente
resolveu logo tudo de papel passado.
Ao receber
alta no dia seguinte recebeu a instrução: Você irá descer no elevador com o
bebê nos braços, não olhe para o casal que irá descer com você também, quando
chegar no térreo você passa o bebe para a senhora e segue seu destino. A jovem entrou
no elevador com aquela criança que nem seu rosto pode ver. Estava muito bem
agasalhado. Silêncio total. Após entregar a criança para aquela senhora alta, magra,
branca, cabelo bem curto e um senhor que quase a jovem não olhou para ele,
seguiu seu caminho. Hoje dia 16/09/16 ele está aniversariando. Pode já estar
casado, com filhos, uma boa profissão porque foi muito bem-educado, mas por
onde anda esse rapaz de 38 anos? Onde mora? Como se chama? Creio que ele não
reside no Brasil porque naquela época havia muitos estrangeiros em busca de uma
criança e por certo o Dr.Fabrício de ter enganado a jovem falando que iria cria-lo
e no entanto entregou a esse casal estrangeiro. A jovem nunca mais voltou a
Santos saiu da empresa, passou por maus bocados e depois de dois meses
regressou a sua terra Natal. Hoje ela já deve ter mais de 60 anos, contudo carrega
esse sentimento de culpa por não poder criar seu filho até sua morte. Todo ano
quando chega Setembro ela começa a lembrar passo a passo, ela não queria procura-lo,
falar porque deu ele quando novinho, queria simplesmente vê-lo de longe para
poder conhecer aquele que passou em seu ventre nove meses.
Nessa viagem que fiz a
São Paulo encontrei esse jovem que me contou essa história em detalhes porque
tivemos três dias para dividir os problemas uma das outras e nunca escrevi nada
sobre essa jovem e hoje olhando o calendário vi que era uma data importante só
não me lembrava o que era, depois de muito pensar recordei da jovem e resolvi
colocar nas minhas estórias de ficção.
OBS: Essa é uma obra de
ficção qualquer semelhança será mera coincidência.
15/09/16