LER E OUVIR HISTÓRIAS FORTALECE A MENTE E O CORAÇÃO
mês não lembro, mas o ano sim.Eu tinha só quatro anos, nada entendia só via o corre corre, as trouxas de lençóis sendo feitas, minha irmã caçula tinha um ano foi a primeira a ser levada da casa... foi assim: começou a chover, nossa relâmpagos e trovões, o céu chega ficava claro quando dava um relâmpago eu não tinha medo,contudo se escutava em seguida o barulho que parecia o mundo se acabando.Morávamos na rua da Palha e o rio passava por trás de nossa casa.Papai tinha comprado uma outra casa perto da estação do trem e lá fez um ponto de comércio, naquela época se chamava Barraca, vendia: caldo de cana, pão doce, banana, aguardente, refresco e mamãe fazia os mais variados tipos de doce em calda, o que eu mais gostava era o de banana e também o de coco com mamão, sim contei isso para dar um ponto de referência caso o rio começasse a encher.E a chuva continuava, der repente surge a cabeça da cheia, eram as águas dos rios se encontrando e formando uma enchente. Daí mais que depressa nos mudamos para a barraca antes que a ponte ficasse inundada porque aí ficaria impossível de passar,no interior onde eu morava existia uma ponte que separava a cidade, por ser construída baixa a cheia quando vinha chegava a cobri-lá daí fazia o maior estrago na cidade.Quando meus irmãos terminaram de fazer a mudança, tinha a de pai Joca também, Dindinha minha avó não podia andar e eles a levaram numa marquesa ( canapé largo com assento de palhinha), ela era muito doentinha e tinha asma, eu amava minha vó foi ela que me ensinou a recitar poesias quando pequena, me sentava na janela e falava os versos para que eu decorasse... então, todos agasalhados e agora tinha que esperar a chuva passar, a maternidade também servia de abrigo para aqueles que não tinha onde ficar. Era um caus.Passado a chuva que pareceu um dilúvio, foi a maior cheia depois da de 1945 se não me engano.Nossa casa a água entrou e na medição deu mais de metro. Muita lama, foi horrível.Quando acalmou o repórter foi fotografar a situação de calamidade que ficou a cidade, e quem estava de costa na foto? Eu, cabelos como sempre longos enrolados com dois cachos, uma calçola horrível, foi a minha primeira foto de top less .Quero aqui agradecer a Manoel Souto por ter procurado esse jornal e me enviado a foto.

OBS :Essa não é uma obra de ficção é um pedacinho da minha vida.

                               28/11/17


Chegou o momento de sonhar, recordar o que passou e jamais as águas que passam por baixo de uma ponte pode voltar, são águas passadas mesmo assim é bom sonhar e recordar o passado, comparando com o presente e tentando adivinhar como será o futuro.Quando criança costumava acordar cedo com mamãe para ver o romper da aurora,não sei se é assim a frase correta, contudo estou repetindo o que ela falava.Era lindo ver o sol nascendo e as nuvens ficando avermelhadas,  era a chegada do sol. Daí saíamos andando, naquela época não existia assaltos, estupros,pedófilos etc, era uma paz total, então íamos pela rua da Palha, passava para o Catolé onde madrinha Mena morava, e voltávamos por um atalho que tinha pelo rio que entrava no beco da padaria de Seu João Domingos,daí sai na  rua de seu Manoel Pedro casado com dona Ambrosina pai de Taninha, Zé minhas agulhas ( eu o chamava assim porque gostava de fazer tricô e esperava que alguém fosse trocar os raios da bicicleta para poder ele pegar dois raios fazer as pontas e me dar ) tinha Ilda Zefinha, também, era uma família grande, quando chegava em casa já passava das seis da manhã.Papai já tinha ido ao sítio cortar cana para poder fazer o caldo no moinho porque não existia ainda elétrico tinha que ser na mão mesmo e para que não ficasse muito pesado o motor, a cana era caiana e grossa daí ele partia ao meio.Tinha meu avô que nós chamávamos com ele Pai Joca, ai meu Deus só Jesus na causa.Ele não gostava de meu pai e era uma coisa séria,papai plantava uma coisa, ele arrancava, as vezes pai Joca fazia uma coisa e papai que desmanchava e assim viveram muitos anos  como gato e rato. Converteu-se ao cristianismo e daí começou a ler e decorar a Bíblia  para sair pregando com quem encontrasse na rua. Também fazer um moinho para gerar energia e com suas contabilidades dando uma de engenheiro tentava levantar um quilo com um peso de dois quilos. Impossível como poderia o menor levantar o maior? Todo dinheiro que pegava era para comprar gesso onde fazia as peças feito uma catraca como experiência para depois transformá-las em madeira.
Como ele  morava sozinho por ser viúvo, transformou sua cozinha num quarto de experiências, me lembro que tinha uma roda de madeira que parecia uma roda gigante, coitado, morreu e nunca fez sua criação.Meu avô era muito bom para mim inclusive quando saí de casa fui morar com ele.Ele falou que iria passar a casa no meu nome quando morresse para que eu não ficasse desamparada.Nossa era muito engraçado. Ele fazia café dentro de uma lata de leite ninho sem coar, comprava dois pães um para mim e outro para ele e só voltávamos a comer a noite... O tempo foi passando e ela não podia continuar naquela vida e foi embora da cidade para capital onde encontrou um trabalho e ficou morando na casa de sua irmã.

OBS: Essa não é uma obra de ficção e sim um pedaço de minha vida.

                                                               28/11/17