LER E OUVIR HISTÓRIAS FORTALECE A MENTE E O CORAÇÃO


Talvez você tivesse me esquecido, mas nunca lhe esqueci. Tive a oportunidade de lhe conhecer bem de pertinho, mas os caminhos tortuosos nos levou para lugares diferentes. Lhe vi pela última vez há 52 anos. Éramos amigas inseparáveis, devido a classe social você era classe média alta, você filha de dono de padaria seu João Domingos onde comprava pão todos os dias para vender na barraca de meu pai que era feirante e agricultor, éramos pobres. Quando fiz exame de admissão no Colégio Normal Santana você também estava lá. Papai pagava meus estudos com cará e batata que ele vendia para o internato do colégio e no final do ano descontava. Turma boa a nossa. Você muito inteligente em Matemática, Maria José Guerra de Albuquerque Cabral em Português, e ficava eu e Betinha a espera de uma fila para resolver as questões da prova. Eu muito ansiosa ficava o tempo todo: Já fez o primeiro ? e o quarto? era um inferno que não lhe deixava em paz. Nossa turma estava formada: Betinha, Neném, Maria José Guerra, Lala, Iraci, Adelma, eu, e Irlaneide, tinha Guiomar coitada, essa era presa no internato e não podia sair para canto nenhum, também era classe média alta, muito fina e educada, a única que tinha saia plissada e as preguinhas eram bem juntinhas, já a minha tinha dois dedos contados nas pregas e eu tinha que colocar embaixo do coxão para ver se ela fica bem pregueadinha igual a dela. Agora a patotinha mesmo era Neném, eu, Maria José, Betinha, Irlaneide e Lala. Neném muito linda com seus cabelos sedosos, loiros, pele branca, fina. Tínhamos uma aula de artes que eu  não tinha dinheiro para comprar o material e Neném como não gostava, comprava e me dava. Eu fazia aquele trabalho e ela apresentava como se fosse ela que havia feito e a Irmã Leônia se não me engano era a professora. Lembro-me de um dia, ela apresentou o trabalho e caiu na graça de falar que tinha sido eu quem fez. A professora colocou tanto defeito e nos outros feito por mim nunca havia falado nada. No desfile de 7 de setembro ela sempre puxava o pelotão com uma bandeira do Brasil era destaque, daí vinha Betinha e eu junto com Isabel Travassos as últimas porque éramos pequenas e ia de acordo com o tamanho. Neném tanta coisa tinha para lhe falar, as vertentes da vida nunca deixou nos encontrar. Agora você partiu. Mesmo mais de 50 anos afastada de você nunca lhe esqueci e sempre que encontrava com alguém da nossa turma a primeira pessoa por quem eu perguntava era você. Você me fez feliz muitos anos e agradeço por ter comprado material para mim fazer as artes e hoje o que aprendi se não fosse você eu jamais teria conseguido. Você partiu. Virou uma estrela no Céu, nossa turma aos poucos está se acabando, é o caminho de todos nos. Da nossa turma já partiram mais de seis. Quem eu sei, nossa Ana Gomes (essa me ajudou muito), Eurides, me deu um branco  agora, porque no exato momento você é minha estrela principal. Que o Senhor Jesus lhe tenha acolhido em seus braços dando um lugar ao seu lado. Descanse em paz minha amiga, mesmo de longe mas que irá permanecer sempre viva em meus pensamentos. Tempo bom, onde não havia maldade éramos inocentes. Descanse em paz. 15/02/25.

OBS: Essa não é uma obra de ficção e sim história real, mais um pedacinho de minha vida.