LER E OUVIR HISTÓRIAS FORTALECE A MENTE E O CORAÇÃO



            Cidade do interior 23 de dezembro de 1966... E lá estava àquela mulher guerreira, batalhadora e ao mesmo tempo tão ríspida, tão seca, tão frustrada, tão amargurada em fim uma mulher que não conseguiu alcançar seus objetivos e eu não a culpo por causa de sua ignorância. Era véspera de Natal, nossa! Quantas encomendas de costuras, cada vestido mais lindo que os outros, naquela época não existiam os estilistas e sim revista de figurinos onde as clientes levava a revista e aquela senhora fazia do mesmo jeito parecia que tinha mãos de fada. Hora do almoço e muitos vestidos para serem entregues em cima da hora porque costureira mesmo de fama só a existia naquela cidade. Maria vai levar o vestido de fulana, ele era embrulhado em um papel e Maria saía nas carreiras e sua mãe
  falava: é um pé lá e outro cá. Da cozinha o marido falava: não tem almoço nessa casa? Coitada saía nas pressas para colocar o almoço, feijão uma fartura em compensação uma colher de sopa de arroz e um pedacinho de carne e muitas vezes ela comia puro porque não sobrava um pouquinho e também nem almoçava tinha que terminar as costuras. Josefa a mais velha era quem mais sofria, sentada em no chão com uma agulha de mão para fazer os abanhados daquelas saias godês, ou melhor, saias rodadas e ela faziam numa perfeição incomparável, além dos abanhados os vestidos eram todos auxiliados quem é dessa época sabe do que se trata hoje tudo é muito moderno. E a luta continuava. Quando Maria saía para a entrega dos vestidos seu pai que tinha um pequeno comércio
 ficava observando a volta e gritava: Venha cá. Maria se aproximava e ele perguntava: Onde está o dinheiro? Quanto ela pagou? Maria esperta falava: ficou fiado, ou então foi tanto quando tinha sido mais para sobrar um pouco pra sua mãe e ele ficava com o dinheiro, quando Maria chegava contava a mãe coitada aí que ela se contrariava mesmo porque morria de trabalhar e não tinha o direito de ficar com o dinheiro era uma total escravidão. E o tempo passava... Os vestidos eram feitos e os das filhas?Será que iria dar tempo? Maria chegava perto de Joaquina e falava: Acho que mamãe não vai fazer os nossos vestidos porque não vai dar tempo, e Joaquina respondia: paciência vai dar sim. E o nervosismo continuava. Era uma tortura, um 
 sofrimento, todo ano era aquele aperreio. Quatro horas da tarde aquela senhora colocava uma peça de chita sobre a mesa e começava a cortar os vestidos das filhas. Na época se usava muito saiote, vestido godê, tubinhos com cintura acentuada, corpo princesa, só com um lado na cava do outro se colocava uma fita de dois dedos, vários modelos e sabe como eram os das filhas? Dois buracos para serem colocados os braços, um para o pescoço, sem nenhuma curvinha na cintura, e abaixo do joelho quatro dedos contados.Que horror e o pior que era tudo igual.Do maior ao menor, que vergonha quando saía parecia par de jarros...( muitos risos).sim voltando ao assunto. A jovem guarda era o auge nessa época, as minissaias de Wanderleia, Valdirene. Martinha, ai quantas 
 saudade e aquelas coitadas usando vestidos abaixo do joelho.E agora era a corrida contra o tempo, tinha que serem feitos quatro vestidos porque a coitada Josefa que mais trabalhava não tinha direito a um vestido porque não concordava com o tecido nem tão pouco com o modelo.As dezessete horas os vestidos estavam prontos.Horríveis, com abanhados alinhavados porque não dava tempo de fazer de escama de peixe, as costuras todas retas, as cavas quase colada debaixo do sovaco o decote do vestido colado no pescoço para não aparecer o colo, e acima de tudo o cumprimento.Pronto os vestidos estão prontos agora podem ir para a festa mais estejam em casa 19:00 horas em ponto. Meu Deus saía Maria, Joaquina, Antônia todas de vestido de chita igualzinho os modelos para a festa onde 
 não havia ninguém porque a festa começava mesmo a partir das 19h00min horas. O que fazer na rua onde os parques nem funcionava ainda? Ficavam feito umas idiotas pra lá e para cá com aqueles vestidos ridículos mais era novo não podia reclamar pior eram aquelas que nem tinham o que vestir... Quando começava a chegar gente na rua que a festa iria começar tinham que voltar por causa do ruge ruge do esfrega esfrega porque no interior os homens gostavam de se aproveitar da aglomeração para poder tocar na mão ou no braços das donzelas (muitos risos).Josefa ficava em casa parecia a gata borralheira, e Das Dores que inventou de arranjar um namorado foi proibida de ir para a festa.E assim foram muitos anos do mesmo jeito, nunca mudou era sempre a mesma coisa no Natal porém suas filhas mesmo com vestido de chita tinham o direito de colocar uma roupa nova.Admirável essa mulher.

Obs:Essa é uma obra de ficção qualquer semelhança será uma mera coincidência.