LER E OUVIR HISTÓRIAS FORTALECE A MENTE E O CORAÇÃO
...e a viagem prosseguia já havíamos parado em vários lugares e chegou a hora do descanso quando aquela pessoa que estava ao meu lado muito bem vestida, com brinco de pérolas, blusa de seda e uma calça que não sei que tecido era continuava a contar um pedaço de sua vida, e o que chamou mais atenção foi a respeito do banheiro. “Lembro-me quando éramos criança só tinha um pinico para papai mamãe eu, Maria, Antônia e Ana quando eu chegava lá papai já tinha mijado e o pinico já estava só com um dedinho, era mijando e ele transbordando, daí mamãe me chamava e dizia: __ quando você vier mijar e o pinico estiver cheio vá para bem perto da porta e mije ali que de manhã eu lavo. Amanhecia e lá estava aquela poça de mijo. Era uma época difícil, não havia água encanada no interior por isso tinha que se encher um tonel com várias latas d’água trazida de um riacho que ficava no fim do terreno onde eu morava. A luta era tremenda, quase perto de ir para o colégio aquele tonel tinha que está cheio onde era usado para o banho e na lavagem dos pratos. Com o passar do tempo o banheiro que era do lado de fora da casa, sei lá se era um banheiro, lembro que tinha uma subida feito um quadrado e um buraco onde eu ficava agachada para poder fazer minhas necessidades. Nossa o mal cheiro era enorme, e o pior de tudo era não ter o papel higiênico, eram pedaços de jornais furados e transpassado um cordão pendurado num prego atrás da porta. Deus com sua infinita misericórdia nunca deixou que nenhum germe fosse pego através daquele papel, Ele via nossas necessidades, e para se tornar cômico, quando não tinha o jornal havia uma opção: tamboeira de milho, nossa como arranhava o forever, ou a quina da parede...é bom relembrar esses casos, ” falou a mulher para mim e delicadamente pediu-me com licença pois iria tomar uma água porque sua garganta estava ressecada de tanto falar. Continuei ali sentada aguardando o retorno dela que gentilmente me trouxe uma água de coco bem geladinha. Entregou-me e tudo se fez silêncio. Não quis lhe indagar mais nada, fiquei quieta até que ela começou a falar: “estás disposta a ouvir só mais um pouquinho de minha estória”? Respondi que sim. Enquanto o ônibus dava partida, ela meio sonolenta me falou: “Vou te contar um segredo: Gostaria de ter mais amor de meus pais, eles nunca me puseram no colo, nunca conversaram comigo, jamais tive o prazer de falar meus planos para o futuro ou ouvir algum conselho, por isso saí de casa muito cedo para poder me livrar daquela prisão, me casei muito nova, construí uma família e sinto-me feliz porque pude educar meus filhos totalmente diferente da minha criação. Hoje sou muito feliz,” daí seus olhos se encheram de lágrimas onde carinhosamente abri minha bolsa tirei um lencinho de papel e dei para que ela usasse, ela agradeceu e não me falou mais nada. Na parada seguinte ela desceu me deu um adeus e até hoje não tive mais notícias dela. Naquela época não existia redes sociais por isso perdemos o contato. Foi bom tê-la encontrado. Na parada seguinte subiu um homem alto, moreno pediu licença e sentou-se ao meu lado e mais uma vez fui ouvir sua estória só que não vou relatar aqui para não misturar uma coisa com a outra.

OBS: Essa é uma obra de ficção qualquer semelhança será uma mera coincidência.

                                   13/03/17



PAULO RIBEIRO DA SILVA era filho do senhor JOSÉ MIGUEL RIBEIRO DA SILVA e dona MARIA DA CONCEIÇÃO, nascido no dia 10 de outubro de 1927 na cidade do Bom Jardim estado de Pernambuco. Quando criança perdeu sua mãe muito cedo quase não a conheceu e foi criado pelo seu pai cantador de viola e improviso onde era convidado para tocar repente nos dias de domingo no sítio que era o único divertimento naquela época.Com o passar do tempo seu pai adoeceu ficando sobre uma cama por mais de quatro anos e ele era quem tomava conta com o maior zelo e na hora da morte prometeu que nunca desampararia sua irmã de menor chamada Nai carinhosamente.Com a morte de seu pai ele começou a carregar água em jumento onde vendia para a população na cidade, depois veio a venda de batata e cará foi aí que surgiu a feira livre, nas quarta-feira que era na rua da Palha e aos sábados na rua Grande onde ele foi um dos fundadores naquela época,  daí ficou conhecido por Paulo da Batata. O tempo passou e certa vez ele encontrou uma professora chamada Maria dos Anjos que era costureira ao mesmo tempo, tinha quatro filhos, ela estava passando por um momento difícil naquela época porque seu marido havia lhe abandonado e só tinha seu pai conhecido por seu Joca que era sapateiro e cientista ao mesmo tempo, e acima de tudo evangélico. Um dia a feira estava ruim e Paulo da Batata não tinha onde deixar a boia daquela feira, foi aí que ele falou com a Maria dos Anjos para guardar em sua casa, ela naquele momento perguntou se ele sabia ler e a resposta foi não. Maria dos Anjos chamou-o para estudar e começou todas as noites dar aula para aqueles alunos, foi aí que ele se apaixonou por ela mesmo sendo mais novo 10 anos, contudo não poderia dar certo porque Maria dos Anjos além de ser mais velha que ele ainda tinha quatro filhos. Seu Paulo não se incomodou e logo a pediu em casamento. Foi um casamento conturbado porque o sogro não admitia, mesmo assim Paulo da Batata mostrou o homem que era, moreno quase negro devido ao sol ardente que queimava sua pele quando fazia suas plantações por ser um agricultor, e para completar analfabeto. Paulo da Batata continuou a vida de feirante e sempre plantando em um terreno que o Estado havia doado para ele fazer seu cultivo de cana de açúcar, milho e feijão. Quando a situação pesava ele ia até a coletoria onde pedia emprestado dinheiro para pagar no final do ano e também ao coronel Manoel Gonçalves, Dos Anjos como era conhecida continuava a ensinar e costurar para ajudar nas despesas de casa que com o passar do tempo compram uma casa na rua da Palha e foi lá que nasceram suas quatro filhas. A família agora havia crescido e o trabalho dobrado, e para sua felicidade na época havia jogo de bicho ele acertou a milhar com o dinheiro comprou uma barraca na praça da Estação Ferroviária onde tinha como vizinho Dona Laura mãe de Bui, Seu Teodósio. A Igreja Batista tinha um beco que separava da barraca justamente para dar acesso aos Três Cocos que era uma vila de casa que tinha três coqueiros e lá moravam as mulheres da vida fácil, que dá vida fácil não tem nada. As crianças cresciam e o custo de vida também então houve um acordo entre a Madre Superiora dona do Colégio Sant'Ana e Paulo da Batata. Como ele não tinha dinheiro para pagar os estudos dos filhos ela propôs o seguinte: Nas quartas e sábados a irmã Constantina iria pegar cará e batata porque havia um internato no colégio e no final do ano somaria quantos quilos foram pegos e descontava nos estudos, quando faltava ele completava e quando sobrava ficava para matricula. Foi assim que ele educou os oitos filhos. Homem digno e honesto. Após ficar viúvo casou pela segunda vez onde teve dois filhos os quais também foram educados com mais regalias, já estava aposentado possuía quartos de aluguéis, não precisava mais trabalhar na enxada nem tão pouco ir para feira. Aos 83 anos cheio de vida foi vítima de um aneurisma que levou o velho no dia 28 de fevereiro de 2010.O legado que ele deixou aos filhos foi a honestidade e lealdade. Parabéns papai onde o senhor estiver sinto muito sua falta, contudo Deus sempre me conforta. Nesse momento gostaria que o senhor estivesse vivo para poder ver o desenvolvimento de minha vida. Sei que no passado fui a ovelha negra da família envergonhando a todos, creio que nasci em um século atrasado, eu era da banda virada mesmo, nunca dei satisfação de meus atos a ninguém pouco importava os comentários, só sei que todas as palavras que saíam de minha boca eram destorcidas e tive que pagar um preço muito alto por causa disso. Tudo passou como tudo passa nesse mundo, hoje já uma sexagenária mas continuo com o espírito de adolescente cheguei ao cume de minha vida. Se morresse hoje não teria de que me lamentar do que não fiz apenas peço a Deus mais um punhadinho de vida porque só falta uma missão a cumprir que é justamente meu afilhado querido onde pretendo vê-lo estabelecido na vida. Parando por aqui. Desabafei um pouco. Sim antes que esqueça, eu poderia ser hoje a rainha de Inglaterra papai jamais me veria com bons olhos porque nunca perdoou o que fiz na minha juventude, deixa pra lá é negócio de pai careta.

OBS: Essa não é uma obra de ficção é a história de meu pai.
                                     
                                    13/03/16