LER E OUVIR HISTÓRIAS FORTALECE A MENTE E O CORAÇÃO

Deitada em minha cama, só escuto o barulho da chuva. Quantos planos havia feito para essa noite. Abertura do São João, muito vinho e churrasco etc. e tal. Tudo de água a baixo, não tenho mais aquela disposição de enfrentar chuva, assaltos, marginais, em  fim não tenho mais coragem de nada e então resolvi ficar em casa, antigamente não tinha medo de nada e hoje encontro-me prisioneira na minha própria casa onde tenho tudo e nada tenho porque vivo amedrontada com o mundo lá fora.
           Há que pontos chegamos, sermos prisioneiros em nosso próprio lar, contudo estou feliz porque tudo que eu queria fazer tive a oportunidade de realizar na minha juventude porque caso contrário estaria frita não teria aproveitado nada na  minha vida. Hoje meu marido encontra-se trabalhando é mais uma noite que vou dormir sozinha numa cama fria sem ter seu corpo para me aquecer, porém agradeço a Deus por ter me dado uma caminha fofinha, nossa quando recordo um pedacinho de minha vida, vou escrever aqui para recordar sem nenhum rancor.
1974:
Paulinho estava com um ano que nunca pude comemorar de tanta pobreza. Aprontei mais uma vez e meu pai me pôs para fora de casa. Deus para onde ir? Só tinha a casa de Pai Joca que era meu avô. Chegando lá somente com minha roupa do coro e Paulinho também contei o que tinha acontecido e ele falou que eu podia ficar lá só almoço que era bom não tinha porque ele almoçava na casa de Papai, mas café dava para fazer. Meu Deus e meu filho que vou dar a ele? Onde vou dormir? Na casa de Pai Joca tinha uma marquise ( pra quem não sabe era uma sofá sem estufado, só aquela tábua dura, daí mandei buscar a rede de Paulinho e lençol, porém Ilna (minha irmã já falecida que Deus a tenha  proibiu de Dapaz  minha madrasta mandar falando que lugar de rapariga era em baixo de uma ponte, com um candeeiro, uma esteira e uma cachorrinha. Chorei tanto, e agora que deveria fazer. Aproveitei que papai estava na feira e fui buscar. Ela me recebeu com murros e daí rolamos no chão um pau danado, nem rede nem lençol nem nada. Voltei pra casa de Pai Joca e como eu tinha dado um pau grande nela e ela não pode se vingar foi me matar com uma faca peixeira. A porta da casa de meu avô era dividida em duas partes. A parte de cima estava aberta e a de baixo tinha um ferrolho em cima e uma tramela em baixo (tramela e um pedaço de madeira bem trabalhada que serve como ferrolho) foi minha sorte, quando menos esperei foi Pai Joca gritando: cuidado Inajá, daí me baixei e a peixeira passou raspando minha cabeça, se ele não avisa ela teria conseguido me esfaquear pela maneira que ele jogou teria me matado. Foi embora mordida de raiva por não ter alcançado seus objetivos, contudo fiquei com medo de papai. Quando fui dormir naquela marquise dura, bem apertadinha Paulinho falava: dói costa e eu então o coloquei sobre meu corpo e ele adormeceu agora imagine a noite inteira sem poder me mexer para não acordar meu filho. Na manhã seguinte Pai Joca foi buscar a rede e lençol. O café que ele fazia era dentro de uma lata de leite ninho e mais no carvão sem coar e comprava três pães, um meu outro dele e outro de Paulinho. Falei pra  Pai Joca que ia até o Juiz para ele obrigar meu pai a dar pelo menos minha cama, já que mamãe havia morrido e eu tinha direito. Papai ficou revoltado falando que eu dei parte dele foi uma muvuca e terminou em pizza porque terminei voltando para casa. Recordo meu sofrimento ,mas fico feliz por ter algo para contar, tendo um passado bom ou ruim mais tenho, pior são aquela pessoas que não tiveram tempo de narrar os acontecimentos de sua vida por ter morrido cedo.

21/06/2013