Após 20 dias de
confinamento os telefonemas começam a chegar mesmo aqueles que nunca ligaram,
as pessoas ficam desesperadas, fazem retrospectivas das coisas boas e ruins que
aconteceram em suas vidas, uma delas chega até chamar de inferno um lar onde só
deveria haver paz e harmonia. Hoje quando escuto sobre maldades que os padrastos
fazem com os enteados, isso nem me choca porque quando era pequena tinha um
vizinho que os filhos sofriam muito na mão daquele homem onde a mãe era conivente
com tudo, inclusive era ela que tomava as iniciativas, contando ninguém acredita,
mas quem foi testemunha de vista pode relatar tudo nos mínimos detalhes. A
coisa pior do mundo é a capa de um ser humano, ou seja, ou não é, e como convivemos
com a falsidade e hipocrisia onde os lobos colocam suas capas de ovelhas fica
muito difícil descobrir quem é Deus e diabo. Hoje a tarde recebi uma ligação de
uma vizinha lá do Recife onde morei por uns quatro anos. Ela está confinada
também, e se lembrou de mim para desabafar porque não aguentava mais aquilo na
sua mente e contando iria aliviar um pouco sua mente, como sempre vou fazer
minha estória com esse relato.
Falava ela: Estava aqui
agora fazendo uma pizza quando der repente me lembrei de meu padrasto, ele era
mau e por qualquer motivo ele me batia, quando não era ele minha mãe criava uma
situação e pedia que ele me batesse. Não sei se era sadismos ou ciúme, geralmente
a mãe se sente velha vendo sua filha desabrochar como uma rosa, onde isso causa
uma raiva, um rancor, pensa que irá ser trocada pelo marido e daí começam as
torturas. Ela me falou que quando estava
fazendo a pizza se lembrou se seu padrasto que um dia ele chegou e falou: Não
já lhe falei que gosto mais de muçarela (muitas pessoas escrevem muçarela com ss mais
o correto é ç é que acostumamos com esse erro que até hoje nos cardápios,
supermercado essa palavra é escrita assim , mas é errado) ela respondeu: mais
eu só diminui a quantidade para que ela não fique tão salgada. Daí foi motivo
para murros, puxões de cabelos, tapas etc. Ela lembra que um dia estava fazendo
o café e a hora da escola já estava em cima e não daria tempo de a água ferver,
daí ela colocou assim mesmo, sua mãe maquiavélica perguntou bem mansinha: Minha
filha, essa água ferveu? Coitada na sua ingenuidade respondeu: Não mamãe porque
já está em cima da hora e não daria tempo para eu ira a escola. Como resposta a
mãe falou: pois então tire a roupa e não vai para o colégio hoje. Coitada
daquela criatura, não tinha tempo de estudar, não era burra, só estudava na
escola porque em casa não tinha tempo, era como se fosse a” A gata borralheira “da
casa. Como sofreu. No ano em que foi reprovada, cursava a 5º série primária,
como castigo sua mãe a deixou um ano sem estudar. Eu estou confinada há 20 dias,
estou com ar de louca, imagine uma pessoa passar 365 dias dentro de casa, de
domingo a domingo, vendo suas irmãs saírem e ela ficar... Nossa muito
sofrimento, chorava calada num canto da parede, não teve infância e para azar
dela um dia sua mãe viu que ela estava chorando, chamou o marido e deu um
material lá e falou: Dê uma surra nela agora, ele não sei quais as intenções deu
um murro tão grande que ela saiu rolando de ladeira abaixo porque o terreno não
era plano. Hoje ela tem sequelas dos murros levados em sua cabeça, mas vive
bem, sobreviveu, construiu família e quando as vezes se toca no assunto ela
fala: Deixa pra lá, já passou. Quando ela me contou isso me deu uma revolta tão
grande, queria que fosse hoje, ele estaria lascado, atrás das grades, mas isso
não aconteceu só com ela com os outros enteados
também, todos foram postos de casa pra fora inclusive tem um que aos 7 anos foi
obrigado a lavar suas próprias roupas.
CHEGA, não quero mais
continuar a escrever a estória que ela me contou estou passando mau e já idosa
pode ser até que eu infarte, porque fecho os olhos e revivo o sofrimento dessa
mulher.
OBS: Essa é uma obra de
ficção, qualquer semelhança será mera coincidência.
06/04/20