Hoje resolvi ir à cidade
comprar uma cortina para colocar na varanda porque os gatos estavam fazendo
hotel de minha cadeira. Não fui de carro porque o estacionamento é péssimo e
como tenho minha carteira que dá direito a andar gratuitamente fui de ônibus.
Ah! Quanto tempo que não ando de ônibus... é muito divertido, olhando as
paisagens, entra uma pessoa desce quatro entra 10 fica lotado e assim por
diante. Como quase em frente de minha casa há uma integração fui sentadinha. O
outro lugar estava vazio quando entrou uma senhora mais ou menos 60 a 65 anos,
a saia arrastando no chão, um calor enorme, mas estava de camisa manga três
quartos, deduzi logo: é pra não mostrar as pelancas, andou nua o tempo inteiro,
agora dando uma de santa e para completar um lenço em uma das mãos. Sentou-se
ao meu lado e começou: É triste viver só, tive tantos maridos e hoje não tenho
ninguém, não consegui viver com nenhum. Fiquei meia intrigada com tal desabafo
e deixei que ela falasse. Olhe minha amiga, posso lhe chamar de amiga? Claro,
respondi, ela falou:” minha infância foi uma droga, por ter meu nariz grande minha mãe só me chamava de nariguda, eu odiava, hoje em dia isso é bullying, mas
antigamente era apelido mesmo. Conheci um rapaz seu nome era Meija, ele era
estrangeiro, me prometeu o mundo e o fundo, fugi de casa e só encontrei
sofrimento ao lado daquele monstro que roubou minha infância, adolescência,
juventude, tudo nessa vida e voltei para casa de meus pais com um filho. Ele
nunca assumiu. O tempo foi passando encontrei um negão bonito esse prometeu
casar comigo assumir meu filho se chamava Saile, nome bíblico, fiquei
toda animada e falei agora encontrei um homem certo, errei outra vez, uma
gravidez em cima da outra e ele voltou para cidade de origem e nunca mais o vi.
Meu pai sabendo que vinha outro neto para ele criar, falou que não era creche a
casa dele, que eu tinha que resolver a situação. No dia que o menino nasceu foi
levando por uma família e nunca mais tive notícias, só depois de alguns anos eu o encontrei. Continuei naquela cidade
sem futuro, parecendo só pessoas para me conhecer, mas assumir que era bom
nada. Aí chegou um rapazinho que disse se apaixonar por mim se chamava João,
esse foi só um passa tempo. Depois um Rotcvi americano queria me levar para os
Estados Unidos, lá eu seria bem garota de programa quando chegasse. Não sei
como chegou um dentista Nótlia descendente de alemão e conversamos, mas aí não
deu certo porque foram contar meu passado para ele e quando esperei nunca mais
apareceu. Um dia chegou um primo e conversamos bastante, ele viu minha situação
e disse: vou tomar conta de você. Eu queria lá ninguém tomando conta de mim,
queria me casar, ter minha casa e um marido, mandei o Nosreg andar. Não tinha
sorte. Outro sem futuro foi Loupa, só porque era filho de um grandão da cidade
pensava que poderia sair com a mulher que quisesse, foram muitas promessas, mas
não passou disso. Um dia conheceu um rapaz Lavirlou, descendente de Árabe, esse
senti firmeza, tudo estava bem, começamos a namorar foi quando descobri um dia que ele era alcóolatra, eu não queria isso para minha vida.
Falei que não dava certo, mesmo assim passamos quatro meses juntos, quando
aparece o João aquele que só foi um passa tempo, ele foi atrás de mim pedindo
que ficasse com ele, deixasse o Lavirlou que eu jamais iria para frente com aquele
homem e fosse morar com ele. Fiquei entre a cruz e a espada sem saber o que
fazer e decidi; friamente falei que iria morar com o João, acho que esse homem
nunca mais irá querer nem notícias minha. Alugamos um quarto e fomos morar,
trabalhávamos na mesma empresa, e ele se apaixonou pela neta da dona dando um
chute na minha bunda. Êita senhora vou descer aqui, falei, mas ela chorando
muito disse: por favor, o ônibus é circular, queria tanto terminar minha história, vamos dar uma volta e depois a senhora desce, é tempo que eu termino.
Como eu não tinha nada para fazer mesmo emprestei meus ouvidos. “Engravidei
outra vez e fui abandonada. Consegui um emprego em uma fábrica sem que o dono
soubesse que eu estava de dois meses e correu tudo bem, só que eu morava em uma
favela de favor e um rapaz me convidou para morar na casa do pai dele assumindo
assim a paternidade da criança, seu nome era Riauma descendente de Polonês.
Fiquei na casa dele e descobri que quatro casas após a do seu pai era a dele
que tinha uma mulher e dois filhos. Quase morro de desgosto. Ele me colocou na
cova dos leões. Se eu soubesse que ele era casado jamais teria ido para lá. O
tempo foi passando eu saia de manhã e só chegava a noite, nem parecia que
morava alguém naquela casa. Não deu certo e ele veio morar comigo deixando sua
esposa. Fiquei contente e ao mesmo triste por ver um lar destruído e eu sendo o
pivô daquela separação. No começo era: Fofa fofa, e eu respondia: oi oi oi
amor. Minha barriga crescendo e o amor aumentando cada vez mais por aquele
homem, até que um dia ele chegou e falou que iria voltar para mulher dele.
Fiquei com muita raiva e rolou um pau danado, ele saiu todo rasgado de unha e a
roupa também. Eu era muito agressiva não aceitava de jeito alguma aquela
separação, não sabia eu que aquele homem só tinha vindo para me tirar da favela
me dando livramento. Quando a criança nasceu fui obrigada a dar outra vez
porque não podia ficar numa casa com um menino que não era neto do pai dele.
Fui demitida do trabalho porque o dono descobriu que eu havia entrado na firma
dele grávida. Não consegui mais emprego e fui obrigada a voltar para minha
cidade e com raiva do cara trouxe toda roupa dele deixando-o só com a roupa do
couro. Sai fugida para aprontar essa com ele porque pedi tanto que ele ficasse
comigo...Resultado, tive esses três filhos mais só criei um. Minha vida foi só
amargura, tristeza e lamentações. Eu comecei a chorar também e não quis mais
ouvir, falei que a história dela era muito comovente que ela me perdoasse, mas
iria descer na próxima parada, não queria mais ouvir nada. Foi isso que fiz.
Desci e sai andando pensando na vida daquela mulher, creio que um dia ela irá
encontrar a felicidade que tanto procurava.
OBS : Essa é uma obra de ficção qualquer semelhança será mera coincidência.