Amanheceu... fogão do lado de
fora da casa, a lenha verde muito difícil para acender o fogo, a sorte que
pendurado no telhado estava as cascas de laranja que era descascada sem quebrar
saiam inteirinhas e eram penduradas no telhado para secar, com isso ajudava a acender
o fogo. Na cozinha dentro de uma bacia estava o milho que ficava de molho de um
dia para o outro porque ficava mole e no dia seguinte era ralado onde se fazia
o cuscuz para o café. Olhando aquele tonel vazio porque não havia água encanada,
uma das filhas já se preparava para enchê-lo com a água do riacho que ficava
atrás da casa, essa água serviria para colocar no banheiro porque não havia
descarga, lavar os pratos e tomar banho. Outra filha já colocava a rodilha
feita de pano para apoiar o pote de barro na cabeça que ia buscar água doce na
cacimba que ficava longe, essa era a água para beber no verão porque no inverno
o patriarca da casa colocava umas formas (jarras) de barro coberto a boca com
um pano de saco em baixo da biqueira porque quando chovia enchia com água da
chuva. Enquanto isso outra filha juntava a roupa suja para ser lavava no rio
que ficava em baixo de um pontilhão, para ajudar a economizar o sabão colocava
folhas de melão e assim as roupas era ensaboada, colocadas para quará, sob as
pedras, enquanto isso ela aproveitava para tomar banho naquela água corrente,
depois recolhia e enxaguava colocava sob as pedras outra vez para secar e
quando já passava das 11:00 horas estava de volta com aquela trouxa de roupa
prontas para serem passadas a ferro. Um ferro muito pesado, que era colocado
dentro carvão e soprava por um buraquinho que ele tinha atrás. Como saber se já
estava no ponto? Era só colocar a ponta do dedo na saliva e colocar em baixo
dele.
As roupas melhores dos homens que trabalhavam tinham que serem engomadas,
fazia aquela goma de araruta e com outro pano passava sobre a peça da roupa, porque
o vinco da calça e nas mangas da camisa eram indispensáveis. Enquanto isso a
outra filha já ia para o sítio plantar feijão e milho, três caroços de milho e
dois de feijão, o pai ia fazendo uma cova uma atrás da outra, e a filha
colocava as sementes dentro da cova e cobria com um dos pés, o ruim de tudo era
a colheita do algodão, furava muito os dedos, as vezes uma das filhas colhia
por cima e quando o pai olhava falava: volte e termine de colher. Esse algodão
era vendido: com caroço era um preço e sem era outro. Enquanto estava no sítio
a matriarca costurava finos vestidos e ainda ensinava, a casa nunca era limpa
porque existia retalho de pano para tudo quanto era lado e o marido sempre
reclamava, porque nunca viu a casa limpa, era de domingo a domingo. Sentada no
chão no cantinho da parede estava uma das filhas fazendo os abainhados das
saías godê que era interminável, tinha que ser de espinha peixe e não poderia aparecer
do lado direito do vestido, caso contrário sua mãe fazia ela desmanchar e fazer
tudo de novo, tinha que ser rápido porque a demanda era muito grande e somente
ela para ajudar. No Natal as filhas ficavam ansiosas para vestir o vestido
novo, e a mãe só fazendo os de fora, quando chegava três horas da tarde as
filhas desesperas porque não daria mais tempo de costurar cinco vestidos, daí sua
mãe pegava uma peça de tecido tudo da mesma cor, as vezes florido, e jogava em
cima da mesa, cortava as cavas, o pescoço, costura reta para não mostrar as
curvas e pronto, estava feito os vestidos, não tinha um babadinho, um bico,
nenhum modelo as vezes o abainhado saia até alinhavado porque não dava tempo...
TENHO QUE PARAR ... VOLTEI HÁ 50 ANOS NO
TEMPO.
OBS: Essa é uma obra de ficção qualquer semelhança será mera coincidência.
15/11/17