
Quando eu era pequena costumava ir a feira com meu pai que vendia batata e cará todas as quartas e sábados.Um dia de quarta-feira enquanto ele vendia resolvi dar uma voltinha e fiquei encantada com umas bolinhas de gude bem novinha parecia de vidro, quando o homem do banco deu as costas eu enchi minha mão e saí toda desconfiada, tinha mais ou menos umas cinco ou seis porque minha mão era pequena e não dava para pegar muitas, mais ou menos eu tinha uns seis ou sete anos. Peguei as bolinha fui em Dona Lita ela vendia doce e pedi uma bolsinha de papel para colocar um negócio dentro, não falei o que era, então ela me deu. Voltei para junto de meu pai e não via a hora de voltar para casa e jogar bolinha de gude. Ao término da feira saímos e ao chegar perto de casa dei uma massadinha antes de entrar pois estava bolando um plano de como chegar com aquelas bolinhas, foi aí que acendeu uma luz: deixo ela aqui no coqueiro entro em casa dou um tempo saio pego e falo pra mamãe que achei. Tudo certo foi isso que fiz. Quando mamãe me perguntou contei o que havia tramado, ela então me levou ao local para mostrar, ou melhor fazer a reconstituição depois ela voltou e mandou eu dizer tudo de novo, em fim nessas alturas eu já desconfiava que ela sabia que eu estava mentindo.Muito séria falou para mim: Olhe dentro dos meus olhos, foi aí que comecei a chorar e contei toda verdade.Sabia que iria levar uma surra das grandes,mas ela não fez nada, apenas disse: deixe dentro do saquinho e sábado iremos devolver ao dono.Não mamãe, não faça isso, me dê uma surra, não quero passar por essa vergonha. Ela não falou mais nada nem tocou no assunto na quinta, na sexta, então pensei que ela havia esquecido. No sábado de 8:00 horas ela disse: Inajá tome um banho que vamos devolver as bolinhas de gude.Chorei, implorei que ela não fizesse uma coisa daquela, não teve acordo. Pegou minha mão e saímos. Quando chegamos na feira ela foi de banco em banco e falava: Minha filha tirou essas bolinhas de gude do seu banco? Não senhora, eu não vendo bolinhas de gude. Da mesma forma no outro, no outro, no outro e quando chegou no que eu havia tirado, o homem olhou para mim, viu minha expressão de desespero, vergonha e falou: Não senhora, não foi aqui e mesmo que tivesse sido, ela é uma criança, deixe-a brincar.Mamãe notou que havia sido ali e devolveu ao homem que imediatamente colocou nas minhas mãos e falou: são suas vá brincar.Eu não quis receber,mas mamãe falou, ele esta lhe dando pode ficar.Voltamos para casa, fui direto para cama, chorei que o lençol ficou ensopado.Não quis comer, que vergonha, como iria para feira outra vez. Mamãe vendo o meu sofrimento chegou para mim e falou:

__ " Minha filha, não me queira mal, se fiz isso hoje foi para seu próprio bem, se eu estivesse dado uma surra você esqueceria e logo estaria fazendo tudo outra vez, hoje você pegou umas bolinhas, amanhã poderia pegar outro objeto e quando menos esperasse estaria aí sendo uma ladra, podendo ser presa e seu fim seria triste.Temos que cuidar enquanto se é pequeno porque depois que crescer será difícil. Agora levante-se e vá brincar com as bolinhas. Eu levantei e peguei as bolinhas,contudo não tive coragem de brincar porque cada vez que as via me lembrava que havia FURTADO daí joguei fora.Nunca mais peguei em nada que não me pertencia, poderia ver o que fosse...
Passei uns dias com raiva da minha mãe hoje agradeço a ela por tudo que me fez, se todas as mães fizessem o que a minha fez comigo naquela época, hoje não existiria tantos ladrões. Chegou com um objeto em casa a mãe tem por obrigação saber de onde veio a origem daquele objeto. Toda criança com idade de seis a dez anos tem essa tendência de pegar as coisas escondido principalmente, lápis, borracha, apontador, carrinho, boneca em fim qualquer coisa.
Mães estejam atentos a seus filhos.
OBS: Essa não é uma obra de ficção é um caso verídico, que apos ter se passado 55 anos ainda está vivo tanto na minha lembrança como também de pessoas que presenciaram o fato.
21/12/17