
Após ter tomado o meu
comprimido cotidiano para relaxar e evitar esses fantasmas do passado que me
perseguem volto ao ano de 1977.Fecho os olhos e vejo como se um filme passasse
em minha frente tirando-me o sono, deturpando meus pensamentos e chegando até
me condenar por tais consequências: como pude acreditar em um maldito homem se
já havia passado por tantas decepções e experiências com outros? Criança, muito
criança, conheci o mundo muito cedo e fui levada a acreditar nas pessoas sem ao
menos pensar nas consequências futuras, foi isso que aconteceu. Estava eu
tranquila, trabalhando e com um namorado fixo, quando der repente em meu
trabalho aparece aquele garoto que eu havia deixado no interior a minha
procura. Falei que não dava certo, minha vida estava boa e que não deixaria meu
namorado por ele, contudo ao vê-lo cantar uma música do Roberto e os olhos cheios
de lágrimas larguei tudo e fui embora com ele. Momentos de amor tivemos juntos,
beijos, abraços, juras de amor, loucuras etc. Após quatro meses juntos, ele
pediu que eu engravidasse, eu não poderia fazer uma coisa daquela, mas por amor
suspendi o comprimido e engravidei. Meu Deus, que loucura que fiz... Tudo havia
mudado... Ele se apaixonou pela neta da dona do estabelecimento onde
trabalhávamos. Como eu sofri... O ano novo passei em baixo de uma árvore
esperando que ele chegasse e chovia muito. Na casa onde alugamos o proprietário
pediu que eu entrasse porque já estava tarde e que eu o esperasse dentro de
casa, porém não dei ouvidos e continuei ali sentada onde as lágrimas se
misturavam com a chuva inundando assim a rua. Lá pelas tantas ele chega e me
manda entrar, discutimos e em seguida ele fala: “SABE QUANTAS VEZES EU ANDAREI
DE MÃOS DADAS COM VOCÊ NA NOSSA CIDADE? NUNCA, TENHO VERGONHA DE VOCÊ, VOCÊ É
UMA MULHER FALADA, DESMORALIZADA”, foi aí que ele começou a me bater. Socou
minha barriga onde estava se gerando nosso “Tinininho”, machucando assim nosso
filho feito com tanto amor, foi aí que o dono da casa partiu pra cima dele
falando que não fizesse aquilo comigo. Chorei muito e falei pra ele: COMO VOCÊ
TEM CORAGEM DE BATER NO MEU ROSTO QUE TANTO BEIJOU? MACHUCAR MINHA BARRIGA ONDE
ESTÁ NOSSO FILHO FEITO COM TANTO AMOR?... Não tive coragem de fazer um aborto,
não sou assassina de uma criaturinha indefesa, preferi assumir as consequências.
Os anos se passaram e ele voltou a me procurar, e eu feito uma cretina ainda me
entreguei de corpo e alma a esse homem. Hoje tudo passou, sou casada e
descobrir que ele também é e através das redes sociais pude ver seus filhos, senti
uma dor no peito ao ver tanta dedicação a eles, enquanto que o meu tive que dar
porque não tive condições de criar. Carrego esse peso em minha mente porque não
sei onde ele está, talvez no Sul ou no Exterior. A vida é assim e não cai uma
folha seca de uma árvore se não for permitida por Deus. Hoje tudo é comum, mas há
40 anos... um horror.
OBS. Essa não é uma
obra de ficção é um pedaço de minha vida
12/03/18