Querido Nenca, meu
abraço.
Talvez você nem chegue a ler o que estou escrevendo, quem sabe alguém
leia e comente daí você possa até ler. E se passaram 49 anos... Naquela época
eu tinha 17 anos quando comecei a lhe dar dor de cabeça, creio que nasci no
século adiantado demais para as coisas que fiz na minha vida. Gostaria de
esquecer o passado nesse momento e prestar contas da minha vida hoje. Olha
Nenca, minha vida deu um giro de 360º. Após muito sofrimento, apanhei muito,
porém toda escolha tem sua consequência. Casei a primeira vez onde foi um
fracasso, mesmo assim ainda consegui passar 13 anos com este homem porque não
queria voltar a vida de antes. Em 1990 conheci um policial, me divorciei e me
casei com ele que vivo até hoje, 33 anos. Dessa vez está dando certo. Foi com
ele que realizei todos os meus sonhos. Tirei minha habilitação, voltei a
estudar do zero, consegui terminar o segundo grau e parti para universidade, já
estava com 50 anos. Foi um barato. Me formei em Letras e no dia da minha
formatura só quem estava presente era meu marido, minha única família. Queria
naquele momento olhar para as cadeiras e ver nossa mãe, papai, você e falar: Eu
consegui, estou formada, contudo infelizmente isso não aconteceu. Mas não parou
por aí, eu queria mais. Foi então que tomei a iniciava de fazer uma Pós-graduação
e escolhi na área da educação, fiz então Supervisão e Orientação Educacional.
Nunca exerci o cargo porque meu negócio mesmo era comércio. Nessa época eu
tinha um Fusquinha 83 companheiro na minha trajetória de vida. Conheci uma
senhora e mostrei para ela meu trabalho de poesias onde fui incentivada a
escrever um livro. Daí mandei para Recife onde a editora fez 150 exemplares e
eu vendi todos. O tempo passou e chegou meus 60 anos. Agora poderia me
aposentar, no segundo mês do meu salário eu vendi meu fusquinha com o coração
partido e fui comprar meu carro do ano um Corsa Sedan 2016 com ar condicionado,
direção hidráulica, trava e alarme. Que presente bom Deus havia me dado! Estava
feliz não precisava mais de nada, foi aí que Manoel Souto de Bom-Jardim um historiador
descobriu que eu havia escrito um livro e me deu uma cadeira na Academia
daquela cidade, fiquei muito orgulhosa, porém nunca fui tomar posse. O tempo
foi passando e um dia recebi um convite para uma entrevista das ex-alunas do Colégio
das Freiras, esse convite também partiu de Manoel Souto que sempre quis me
elevar, mostrar que o preconceito havia acabado. Respondi todas as perguntas.
Agora realmente estava superando as dificuldades. Quem te viu e quem te vê.
Queria muito me sentar em uma cadeira com você e contar tudo isso pessoalmente
como fiz com Chiquinho que me ajudou muito nas minhas loucuras na juventude,
mas foi você a quem eu mais dei dor de cabeça. Hoje na minha velhice aos 66
anos vivo na minha casa, e me sinto realizada. Queria aqui agradecer a você por
tudo quanto você fez por mim, quanto lhe envergonhei naquela época, pedir
perdão pelas minhas falhas graves cometidas, não esquecendo de Maria José sua
esposa que também muito me ajudou. Resta-me apenas um trauma na minha vida: Não
consigo ficar em ambientes onde existem várias pessoas, não vou a nenhum
casamento nem tão pouco festa de aniversário temendo ser expulsa daquele local.
Não consigo voltar a minha terra Natal...É como lhe falei todas nossas escolhas
têm as consequências... Mais uma vez obrigada por tudo, que Deus lhe abençoe e
continue lhe abençoando sempre.