LER E OUVIR HISTÓRIAS FORTALECE A MENTE E O CORAÇÃO


 37.1 Sobre isto treme também o meu coração, e salta do seu lugar. 2 Dai ouvidos ao trovão de Deus, estrondo que sai da sua boca; 3 Ele o solta por debaixo de todos os céus,  e os seu relâmpago até aos confins da terra. 4 Depois deste, ruge a sua voz, troveja com o estrondo da sua majestade, e já ele não retém o relâmpago quando lhe ouvem a voz. 5 Com a sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes cousas, que nós não compreendemos. 6 Porque ele diz a neve: Cai sobre a terra; e a chuva e ao aguaceiro: Sede fortes. 7 assim torna ele inativas as mãos de todos os homens, para que reconheçam as obras dele, 8 E as alimárias entram nos seus esconderijos e ficam nas suas cavernas.9 De suas recamaras sai o pé-de-vento, e dos ventos do norte o frio. 10 Pelo sopro de Deus se dá a geada, e as largas águas se congelam. 11 Também de umidade carrega as densas nuvens, nuvens que espargem os relâmpagos. 12 Então elas, segundo o rumo que ele dá, se espalham para uma e outra direção, para fazerem tudo o que lhes ordena sobre a redondeza da terra. 13 E tudo isso faz ele vir para disciplina, se convém a terra, ou para exercer a sua misericórdia.14 Inclina, Jó, os teus ouvidos a isto, para, e  considera as maravilhas de Deus. 15 Porventura sabes tu como Deus as opera, e como faz resplandecer o relâmpago da sua nuvem? 16 Tens tu notícias do equilíbrio das nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito em conhecimento? 17 Que faz aquecer as tuas vezes, quando há calma sobre a terra por causa do vento sul? 18 Ou estendeste com ele o firmamento, que é sólido como espelho fundido?  19 Ensina-nos o que lhe diremos; porque nós, envoltos em trevas, nada lhe podemos expor. 20 Contar-lhe-ia alguém o que tenho dito? Seria isso desejar o homem ser devorado. 21 Eis que o homem não pode olhar para o sol que brilha no céu, uma vez passado o vento que o deixa limpo. 22 Do norte vem o áureo esplendor, pois Deus está cercado de tremenda majestade. 23 Ao Todo-poderoso  não o podemos alcançar; ele é grande em poder, porém não perverte o juízo e a plenitude da justiça; 24 Por isso os homens o temem; ele não olha para os que se julgam sábios.


 No sofrer do homem Deus lhe visa o bem

36.1 Prosseguiu Eliú, e disse: 2 Mais um pouco de paciência e te mostrarei que ainda tenho argumentos a favor de Deus. 3 De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu Criador atribuirei a justiça. 4 Porque na verdade, as minhas palavras não são falsas; contigo está quem é senhor do assunto. 5 Eis que Deus é mui grande, contudo a ninguém despreza;  é grande na força da sua compreensão. 6 Não poupa vida ao perverso, mas faz justiça aos aflitos. 7 Dos justos não tira os seus olhos; antes com os reis no trono os assenta para sempre, e são exaltados. 8 Se estão presos em grilhões, e amarrados com cordas de aflição,  9 Ele lhes faz ver as suas obras, as suas transgressões, e que se houveram com soberba. 10 Abre-lhes também os ouvidos para a instrução, e manda-lhes que se convertam da iniquidade. 11 Se o ouvirem e o servirem, acabarão seus dias em felicidade, e os seus anos em delícias. 12 Porém se não o ouvirem, serão traspassados pela lança, e morrerão na sua cegueira. 13 Os ímpios de coração amontoam para si a ira; e agrilhoados por Deus não clamam  por socorro.14 Perdem a vida na sua mocidade, e morrem entre os prostitutos cultuais. 15 Ao aflito livra por meio da sua aflição, e pela opressão lhe abre os ouvidos. 16 Assim também procura tirar-te das fauces da angústia para um lugar espaçoso, em que não há aperto, e as iguarias da tua mesa seriam cheias de gordura; 17 Mas tu te enches do juízo do perverso, e, por isso o juízo e a justiça te alcançarão. 18 Guarda-te, pois, de que a ira não te induza a escarnecer, nem te desvie a grande quantia do resgate.19 Estimaria ele as tuas lamúrias e todos os teus grandes esforços, para que te vejas livre da tua angústia? 20 Não suspires pela noite, em que povos serão tomados do seu lugar. 21 Guarda-te, não te inclines para a iniquidade; pois isso preferes a tua miséria. 22 Eis que Deus se mostra grande em seu poder!  23 Quem lhe prescreveu o seu caminho, ou quem lhe pode dizer: Praticaste a injustiça?

Eliú  exalta a majestade de Deus

24 Lembra-te de lhe magnificares as obras que os homens celebram. 25 Todos os homens as contemplam; de longe as admira o homem. 26 Eis que Deus é grande, e não o podemos compreender; o número dos seus anos não se pode calcular. 27 Porque atrai para si as gotas de água que de seu 
vapor destilam em chuva, 28 A qual as nuvens derramam, e gotejem sobre o homem abundantemente. 29 Acaso pode alguém entender o estender-se das nuvens, e os trovões do seu pavilhão? 30 Eis que estende sobre elas o seu relâmpago e encobre as profundezas do mar. 31 Pois por estas cousas julga os povos e lhes dá mantimento em abundância.32 Enche as mãos de relâmpagos e os dardeja contra o adversário. 33 O fragor da tempestade dá notícias a respeito dele, dele que é zeloso na sua ira contra a injustiça. 



 Deus não ouve os aflitos, porque estes não tem fé

35.1 Disse mais Eliú: 2 Achas que é justo dizeres: Maior é aminha justiça do que a de Deus? 3 Porque dizes: De que me serviria ela? Que proveito tiraria dela mais do que do meu pecado? 4 Dar-te-ei  resposta, a ti e aos teus amigos contigo. 5 Atenta para os céus, e vê; contempla as altas nuvens acima de ti. 6 Se pecas, que mal lhe causas tu? Se as tuas transgressões se multiplicam, que lhe fazes? 7 Se és justo, que lhe dás, ou que recebe ele da tua mão? 8 A tua impiedade só pode fazer o mal ao homem como tu mesmo; e a tua justiça dar proveito ao filho do homem. 9 Por causa das muitas opressões os homens clamam, clamam por socorro contra o braço dos poderosos. 10 Mas ninguém diz: Onde está Deus que me fez, que inspira canções  de louvor durante a noite, 11 Que nos ensina mais do que aos animais da terra, e nos faz mais sábios do que as aves dos céus? 12 Clamam, porém ele não responde, por causa da arrogância dos maus. 13 Só gritos vazios Deus não ouvirá, nem atentará para eles o Todo-poderoso. 14 Ainda que dizes que não o vês, a tua causa está diante dele; por isso espera nele. 15 Mas agora, porque Deus na sua ira não está punindo, nem fazendo muito caso das transgressões, 16 Abre Jó a sua boca, com palavras vãs, amontoando frases de ignorante.

ó 


 Eliú justifica a Deus

34.1 Disse mais Eliú: 2 Ouvi, o sábios, as minhas razões; vós, entendidos, inclinai os ouvidos para mim. 3 Porque o ouvido prova as palavras, como o paladar a comida. 4 O que é direito escolhamos para nós; conheçamos entre nós o que é bom. 5 Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. 6 apesar do meu direito, sou tido por mentiroso; a minha ferida é incurável, sem que haja pecado em mim. 7 Que homem há como Jó, que bebe a zombaria como água? 8 E anda em companhia dos que obram a iniquidade, e caminha com homens perversos? 9 Pois disse: De nada aproveita ao homem e comprazer-se em Deus. 10 pelo que vós, homens sensatos, escutai-me: Longe de Deus o praticar ele a perversidade, e do Todo-poderoso o cometer injustiça; 11 Pois retribuirá ao homem segundo as suas obas, e faz que a cada um toque segundo o seu caminho. 12  Na verdade,  Deus não procede maliciosamente; nem o Todo-poderoso perverte o juízo. 13 Quem lhe  confiou o universo? 14 Se Deus pensasse apenas em si mesmo, e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, 15 Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó. 16 Se, pois, há em ti entendimento, ouve isto;  inclina os ouvidos ao som das minha palavras. 17 Acaso governaria o que aborrecesse o direito? E quererás tu condenar aquele que é justo e poderoso? 18 Dir-se-á a um rei: Oh! vil? ou aos príncipes: Oh! perversos? 19 Quanto menos aquele, que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima ao rico mais do que ao pobre: porque todos são obras de suas mãos. 20 De repente morrem. a meia-noite os povos sã perturbados, e passam, e os poderosos são tomados por força invisível. 21 Os olhos de Deus estão sobre os caminhos do homem, e veem  todos  os seus passos. 22 Não há trevas nem sombra assaz profunda,  onde se escondam  os que obram a iniquidade. 23 Pois Deus não precisa observar por muito tempo o homem antes de o fazer ir a juízo perante ele, 24 Quebranta os fortes, sem os inquerir, e põe outros em seu lugar. 25 Ele conhece, pois, as suas obras; de noite os transtorna, e ficam moídos. 26 Ele os fere como a perversos a vista de todos; 27 Porque dele se desviaram e não quiseram compreender nenhum de seus caminhos, 28 E assim fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o lamento dos aflitos. 29 Se ele aquietar-se, quem o condenará? Se encobrir o rosto, quem o poderá contemplar, seja um povo, seja um homem? 30 Para que o ímpio não reine e não haja quem iluda o povo. 31 Se alguém diz a Deus: Sofri, não pecarei mais. 32 O que não vejo, ensina-mo tu; se cometi injustiça, jamais a tornarei a praticar, 33 Acaso deve ele recompensar-te segundo tu queres,  ou não queres? Acaso deve ele dizer-te: Escolhe tu, e não eu; declara o que sabes, fala? 34 Os homens sensatos dir-me-ão,  dir-me-á  o sábio que me ouve; 35 Jó falou sem conhecimento, e nas suas palavras não há sabedoria. 36 Oxalá fosse Jó provado até ao fim, porque ele respondeu como homem de iniquidade. 37 Pois ao seu pecado acrescenta rebelião, entre nós, com desprezo, bate ele as palmas, e multiplica as suas palavras contra Deus.




 Eliú repreende a Jó

33.1 Ouvi, pois, Jó, as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas palavras. 2 Passo agora a falar, em minha boca fala a minha língua. 3 As minhas razões provam a sinceridade do meu coração, e os meus lábios proferem o puro saber. 4 O Espírito de Deus me fez; e o sopro de Todo-poderoso me dá vida. 5 Se podes contestar-me, dispõe bem as tuas razões perante mim e apresenta-te.  6 Eis que diante de Deus sou como tu és; também eu sou formado do barro. 7 Por isso não te inspiro terror, nem será pesada sobre ti a minha mão. 8. Na verdade, falaste perante mim, e eu ouvi o som das tuas palavras. 9 Estou limpo sem transgressão; puro sou e não tenho iniquidade. 10 Eis que Deus procura pretextos contra mim, e me considera como seu inimigo. 11 Põe no tronco os meus pés, e observa todas as minhas veredas. 12 Nisto não tens razão, eu te respondo; porque Deus é  maior do que o homem. 13 Por que contendes com ele, afirmando que não te dá contas de nenhum dos seus atos? 14 Pelo contrário, Deus fala de um modo, sim, de dois modos, mas o homem não atenta para isso. 15 Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, quando adormecem na cama, 16 Então lhes abre os ouvidos, e lhes sela a sua instrução,  17 Para apartar o homem do seu desígnio e livrá-lo da soberba; 18 Para guardar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada. 19 Também no seu leito é castigado com dores, com incessante contenda nos seus ossos; 20 De modo que a sua vida abomina o pão, e a sua alma a comida apetecível. 21 A sua carne, que se via, agora desaparece e os seus ossos, que não se viam, agora se descobrem.22 A sua alma se vai chegando a cova, e a sua vida aos portadores, da morte. 23 Se com ele houver um anjo intercessor, um dos milhares, para declarar ao homem o que lhe convém, 24 Então Deus terá misericórdia dele, e dirá ao anjo: Redime-o, para que não desça a cova; achei resgate. 25 Sua carne se robustecerá com o vigor da sua infância, e ele tornará aos dias da sua juventude. 26 Deveras orará a Deus, que lhe será propício; ele, com júbilo, verá a face de Deus, e este lhe restituirá a sua justiça. 27 Cantará diante dos homens, e dirá: pequei, perverti o direito, e não fui punido segundo merecia. 28 Deus redimiu a minha alma de ir para cova; e a minha vida verá a luz. 29 Eis que tudo isto é de Deus, duas e três vezes para com o homem, 30 Para reconduzir da cova a sua alma, e o alumiar com a luz dos vivente. 31 Escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei. 32 se tens alguma cousa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te. 33 Se não escuta-me. Cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria.






 Eliú irado contra Jó e seus três amigos

32.1 Cessaram aqueles três homens de responder a Jó no tocante ao se ter ele por justo aos seus próprios olhos.2 Então se acendeu a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; acendeu-se a sua ira contra Jó, porque este pretendia ser mais justo do que Deus.3 Também a sua ira se acendeu contra os três amigos, porque, mesmo não achando eles o que responder, condenavam Jó. 4 Eliú, porem esperara para falar a Jó, pois eram demais idade do que ele. 5 Vendo Eliú, porem esperara para falar a Jó, pois eram de mais idade do que ele. 5 Vendo Eliú que já não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu.

Eliú vinga o seu direito de responder a Jó

6 Disse Eliú, filho de Baraquel, o buzita: Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; arreceei-me e temi de vos declarar a minha opinião. 7 Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria. 8 Na verdade, há um espírito no homem, e o sopro do Todo-poderoso o faz entendido. 9 Os de mais idade não é que são os sábios, nem os velhos os que entendem o que é reto. 10 Pelo que digo: Dai-me ouvidos, e também eu declararei a minha opinião. 11 Eis que aguardei as vossas palavras, e dei ouvidos as vossas considerações enquanto,  quem sabe, buscáveis o que dizer, 12 Atentando, pois, para vós outros, eis que nenhum de vós houve que refutasse a Jó, nem que respondesse as suas razões. 13 Não vos desculpeis, pois, dizendo: Achamos sabedoria nele; Deus pode vencê-lo, e não o homem. 14 Ora ele não me dirigiu palavra alguma, nem eu lhe retorquirei com as vossas palavras. 15 Então pasmados, já não respondem, faltam-lhe as palavras. 16 Acaso devo esperar, pois não falam, estão parados, e nada mais respondem? 17 Também eu concorrerei com a minha resposta; declararei a minha opinião. 18 Porque tenho muito que falar, o meu espírito me constrange. 19 Eis que dentro em mim sou como o vinho, sem respiradouro, como odres novos, prestes a arrebentar-se. 20 Permiti, pois, que eu fale para desafogar-me; abrirei os meus lábios, e responderei.21 Não farei acepção de pessoas, nem usarei de lisonjear; em caso contrário em breve me levaria o meu Criador.

Jó declara sua integridade

31. Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela? 2 Que porção, pois, teria eu do Deus lá de cima, e que herança do Todo-poderoso desde as alturas? 3 acaso não é a perdição para o iníquo, e o infortúnio par os que praticam a maldade? 4 Ou não vê Deus os meus caminhos, e não conta todos os meus passos? 5 Se andei com falsidade, e se o meu pé se apressou para o engano    6 ( Pese-me a Deus em balanças fiéis, e conhecerá aminha integridade); 7 Se os meus passos se desviaram do caminho, e se o meu coração segue os meus olhos, e se as minhas mãos se apegou qualquer mancha, 8 Então semeie eu e outro como, e sejam arrancados os renovos do meu campo. 9  Se  o meu coração se deixou seduzir por causa de mulher, se andei a espreita a porta do meu próximo, 10 Então moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre ela. 11 Pois seria isso um crime hediondo, delito a punição de juízes; 12 Pois seria fogo que consome até a destruição, e desarraigaria toda a minha renda.13 Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo, 14 Então que faria eu quando Deus se levantasse?  E, inquirindo ele a causa, que lhe responderia eu? 15 Aquele que me formou no ventre materno, não os fez também a eles?  Ou não é o mesmo que nos formou na madre?  16 Se retive o que os pobres desejavam, ou fiz desfalecer os olhos da viúva; 17  Ou se  sozinho comi o meu bocado, e o órfão dele não participou 18 ( Porque desde a minha mocidade cresceu comigo como se eu lhe for ao pai, e desde o ventre da minha mãe fui guia da viúva); 19 Se a alguém vi perecer por falta de roupa, e ao necessitado por não ter coberta; 20 se os seus lombos não me abençoaram, se ele não se aquentava com a lã dos meus cordeiros; 21 Se eu levantei a mão contra o órfão, por me ver apoiado pelos juízes da porta, 22 Então caia a omoplata do meu ombro, e seja arrancado o meu braço da articulação. 23 Porque o castigo de Deus seria para mim um assombro, e eu não poderia enfrentar a sua majestade. 24 se no ouro pus a minha esperança, ou disse ao ouro fino:  Em ti confio; 25 Se me alegrei por serem grandes os meus bens, e por ter a minha mão alcançado muito; 26 Se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, que caminhava esplendente, 27 E o meu coração se deixou enganar em oculto, e beijos lhes atirei com a mão, 28  Também isto seria delito a punição de juízes;  pois assim negaria eu ao Deus lá de cima. 29 Se me alegrei da desgraça do que me tem ódio, e se exultei quando o mal o atingiu 30 ( Também não deixei pecar a minha boca, pedindo com imprecações a sua morte); 31 Se a gente da minha tenda não disse: Ah!  que haverá aí que não se saciou de carne provida por ele!  32 O estrangeiro não pernoitava na rua; as minhas portas abria ao viandante, 33 Se, como Adão encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio; 34 Porque eu temia a grande multidão, e o desprezo das famílias me apavorava, de sorte que me calei e não saí da  porta.35 Oxalá eu tivesse quem me ouvisse! Eis aqui a minha defesa assinada! Que o Todo-poderoso me responda! Que o meu adversário escreva a sua acusação!  36 Por certo que a levaria sobre o meu ombro, atá-la-ia sobre mim como coroa; 37 Mostrar-lhe-ia  o número dos meus passos; como príncipe me chegaria a ele. 38 Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente chorarem; 39 Se comi os seus frutos sem tê-la pago devidamente, e causei a morte aos seus donos, 40 Por trigo me produza cardos, e por cevada, joio. Fim das palavras de Jó.
 


 Jó lamenta a miséria em que caiu

30.1 Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de por ao lado dos cães do meu rebanho.2 De que também me serviria a força das suas mãos?  homens cujo vigor já pereceu. 3 De míngua e fome se debilitaram;  roem os lugares secos, desde muito  em ruínas e desolados. 4 Apanham malvas e folhas dos arbustos, e se sustentam de raízes de zimbro. 5 do meio dos homens são expulsos; grita-se contra eles, como se grita atrás de um ladrão. 6 Habitam nos desfiladeiros sombrios, nas cavernas da terra e das rochas. 7 Bramam entre os arbustos, e se ajuntam debaixo dos espinheiros.8 São filhos de doidos, raça infame, e da terra são escorraçados. 9 Mas agora sou a sua canção de motejo, e lhes sirvo de provérbio. 10 Abominam-me, fogem para longe de mim, e não se abstêm de me cuspir no rosto. 11 Porque Deus afrouxou a corda do meu arco, e me oprimiu; pelo que sacudiram de si o reio perante o meu rosto. 12 A direita se levanta uma súcia, e me empurra, e contra mim prepara o seu caminho de destruição. 13 Arruinaram a minha vereda promovem a minha calamidade;  gente para quem já não há socorro. 14 Vêm contra mim como por uma grande brecha, e se revolvem avante entre as ruínas, 15 sobrevieram-me a pavores, como pelo vento é varrida a minha honra. como nuvem passou a minha felicidade.  16 Agora dentro em mim se em derramas a alma; os dias da aflição se apoderaram de mim. 17 A noite me verruma os ossos e os desloca e não descansa o mal que me rói, 18 pela grande violência do meu mal está desfigurada minha veste mal que me cinge como a gola da minha túnica. 19 Deus, tu me lançaste na lama e me tornei semelhante ao pó e a cinza. 20 Clamo a ti, e não me respondes; estou em pé, mas apenas olhas para mim. 21 Tu foste cruel contra mim; coma fora da tua mão tu me combateste. 22 Levantas-me sobre o vento e me fazes cavalgá-lo; dissolves-me no estronde da tempestade.23 Pois eu seu que me levarás a morte e a casa destinada a todo vivente. 24 De um montão de ruínas não estenderá o homem a mão, e na sua desventura não levantará um grito por socorro? 25 Acaso não chorei sobre aquele que atravessava dia difíceis, ou não se angustiou a  minha alma pelo  necessitado?  26 Aguardava eu o bem e eis que me veio o mal; esperava a luz,  veio-me a escuridão. 27 O meu íntimo se agita sem cessar. e os de aflição me sobrevêm. 28 Ando de luto, sem a luz do sol; levanto-me na congregação e clamo por socorro, 29 sou irmão dos chacais, e companheiro de avestruzes. 30 Enegrecida se me cai a pele, e os meus osso queimam  em febre. 31 Por isso a minha harpa se me tornou em prantos de luto, e aminha flauta em vos dos que choram.


 Jó lembra-se do seu primeiro estado feliz

29.1 Prosseguiu Jó no seu discurso, e disse: 2 Ah! quem me dera ser como fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! 3 Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça, quando eu, guiado por sua luz, caminhava pelas trevas;  5 Quando o Todo-poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim. 6 Quando eu lavava os meus pés em leite, e da rocha me corriam ribeiros de azeite! 7 Quando saía para a porta da cidade, e na praça me era dado sentar-me, 8 Os moços me viam, e se retiravam. os idosos se levantavam e se punham em pé; 9 Os príncipes reprimiam as suas palavras, e punham a mão sobre a boca; 10 A voz dos nobres emudecia, e a sua língua se apegava ao paladar. 11 Ouvindo-me algum ouvido, esse me chamava feliz; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim; 12 Porque eu livrava os pobres que clamavam, e também o órfão que não tinha quem o socorresse. 13 A benção do que estava a perecer vinha sobre mim, e eu fazia rejubilar-se o coração da viúva, 14 Eu me cobria de justiça, e esta me servia de veste; como manto e turbante era a minha equidade. 15 Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo. 16 dos necessitados era pai, e até as cousas dos desconhecidos eu examinava. 17 Eu quebrava os queixos dos iníquos, e dos seus dentes lhe fazia eu cair a vítima. 18 Eu dizia: No meu ninho expirarei, multiplicarei os meus dias como a areia. 19 A minha raiz se estenderá até as águas, e o orvalho ficará durante a noite sobre os meus ramos; 20 A minha honra se renovará em mim, e o meu arco se reforçará na minha mão. 21 Os que me ouviam esperavam o meu conselho e guardavam silêncio para ouvi-lo.22 Havendo eu falado não replicavam; as minhas palavras caíam sobre eles como orvalho. 23 Esperavam-me como a chuva, abriam a boca, como chuva de primavera. 24 Sorria-me para eles quando não tinham confiança; e a luz do meu rosto não desprezavam. 25 Eu lhes escolhia o caminho, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas tropas, como quem consola os que pranteiam.


 O homem apropria-se das riquezas da terra

28.1 Na  verdade, a prata tem suas minas, e o ouro, que se refina, o seu lugar. 2 O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre. 3 os homens põem termo a escuridão, e até aos últimos confins procuram as pedras ocultas nas trevas e na densa escuridade. 4 Abrem entrada para minhas  longe da habitação dos homens, esquecidos dos transeuntes, e, assim, longe deles, dependurados, oscilam de um lado para outro. 5 Da terra procede o pão, mas em baixo é revolvida como por fogo. 6 Nas sua pedras se encontra safira, e há pó que contém ouro. 7 Essa vereda, a ave de rapina a ignora, e jamais a viram os olhos do falcão. 8 Nunca a pisaram feras majestosas nem o leãozinho parrou por ela. 9 Estende o homem a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as sua raízes. 10 Abre canais nas pedras, e os seu olhos veem tudo o que há de mais precioso. 11 Tapa os veios de água e nem uma gota sai deles, e traz a luz o que estava escondido.

A verdadeira sabedoria é dom de Deus

12 Mas onde se achará a sabedoria? e onde está o lugar do entendimento? 13 O homem não conhece o valor dela, nem se acha ela na terra dos vivente. 14  O abismo diz: Ela não está comigo. 15 Não se dá por ela ouro fino, nem se pesa prata em câmbio dela. 16 O seu valor não se pode avaliar pelo ouro de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira. 17 O ouro não se iguala a ela, nem o cristal; ela não trocará por joia de ouro fino; 18 Ela faz esquecer  o coral e o cristal; a aquisição da sabedoria é melhor que a das pérolas. 19 Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode avaliar por ouro puro. 20 Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento? Está encoberta aos olhos de  todo vivente, e oculta as aves do céu.22 O  abismo e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama. 23 Deus lhe entende o caminho, e ele é quem sabe o seu lugar.  24 Porque ele perscruta até as extremidades da terra, vê tudo o que há debaixo dos céus. 25 Quando regulou o peso do vento, e fixou a medida das águas; 26 Quando determinou leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões; 27 Então viu ele a sabedoria e a manifestou; estabeleceu-a, e também a esquadrinhou. 28 E disse ao homem; Eis que temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento.