Está chovendo, eu não gosto quando chove a noite, me dá uma
tristeza danada porque relembro o meu passado e as histórias que mamãe contava, como por exemplo: não tinha comida para dar aos filhos do primeiro casamento e contava histórias para
que eles dormissem e quando algum falava que estava com fome ela respondia:
deixa eu terminar de contar o final que vou pegar a comida, e daí a história ia
se alongando eles terminavam dormindo, isso me corta o coração e choro, sei que
tudo passou, mas mamãe sofreu um bocado.
Lembro que quando amanhecia o fogão era
do lado de fora da casa, a lenha verde muito difícil para acender o fogo, Laís
por ser a mais velha era como se fosse a empregada da casa tinha que levantar
cedo para fazer o café e ela começava a soprar aquela lenha que não pegava e
por sorte tinha as cascas de laranja que era descascada sem quebrar saiam
inteirinhas e eram penduradas no telhado para secar, com isso ajudava a acender
o fogo.
Na época da
plantação, eu ia para o sítio plantar
feijão e milho, três caroços de milho e dois de feijão, papai ia com a enxada fazendo
as covas uma atrás da outra, e eu colocava as sementes dentro da cova e cobria
com um dos pés, as vezes para terminar logo eu colocava cinco feijão seis
milho, quando nascia papai dava a molesta porque ficava perdido tinha que ser a
quantidade certa, o ruim de tudo era a colheita do algodão, furava muito meus
dedos, as vezes eu colhia por cima e quando o papai olhava falava: volte e termine
de colher. Esse algodão era vendido: com caroço era um preço e sem era outro.
Na cozinha dentro de uma bacia estava o milho que ficava de molho de um
dia para o outro porque ficava mole para ser ralado onde se fazia o cuscuz para
o café. Olhando aquele tonel vazio porque não havia água encanada era a vez de
Ione que já se preparava para enchê-lo com a água do riacho que ficava atrás de
casa, essa água serviria para colocar no banheiro porque não havia descarga,
lavar os pratos e tomar banho. Outra filha já colocava a rodilha feita de pano
para apoiar o pote de barro na cabeça que ia buscar água doce na cacimba que
ficava longe, essa era a água para beber no verão porque no inverno papai colocava
umas formas (jarras) de barro coberto a boca com um pano de saco em baixo da
biqueira porque quando chovia enchia com água da chuva.
Depois que Laís fazia o
café juntava a roupa suja para ser lavada no rio que ficava em baixo de um
pontilhão e para ajudar a economizar o sabão colocava folhas de melão e assim
as roupas era ensaboada, colocadas para quará, (deixar no sol por um tempo e de
vez em quando jogar água por cima para tirar a sujeira por completo) sob as
pedras, enquanto isso ela aproveitava para tomar banho naquela água corrente,
depois recolhia e enxaguava colocava sob as pedras outra vez para secar e
quando já passava das 11:00 horas estava de volta com aquela trouxa de roupa
pronta para serem passadas a ferro. Um ferro muito pesado, que tinha um buraco atrás onde era colocado
dentro carvão e esse buraquinho servia para soprar. Como saber se já
estava no ponto? Era só colocar a ponta do dedo na saliva e colocar em baixo
dele. As roupas melhores dos homens que trabalhavam tinham que serem engomadas,
fazia aquela goma de araruta e com outro pano passava sobre a peça da roupa,
porque o vinco da calça e nas mangas da camisa eram indispensáveis.
Enquanto papai estava no sítio a mamãe costurava finos vestidos e ainda
ensinava, a casa nunca era limpa porque existia retalho de pano para tudo
quanto era lado e o papai sempre reclamando porque nunca viu a casa limpa, era
de domingo a domingo. Sentada no chão no cantinho da parede estava Laís ( não
era bombril, mas tinha 1001 utilidades) coitada, fazendo os abainhados das saías
godês que eram intermináveis, tinha que ser espinha de peixe e não poderia
aparecer do lado direito do vestido, caso contrário mamãe fazia ela desmanchar
e fazer tudo de novo, tinha que ser rápido porque a demanda era muito grande e
só havia ela para ajudar, além desse abainhado tinha que auxiliar toda as
costuras por dentro para não desfiar.
No Natal ficávamos ansiosas para vestir o
vestido novo, e a mamãe só fazendo os de fora, quando chegava três horas da
tarde nós já estávamos desesperadas porque não daria mais tempo de costurar
cinco vestidos, daí a mamãe pegava uma peça de chita tudo da mesma cor, as
vezes florido, e jogava em cima da mesa, cortava as cavas, o pescoço, costura reta
para não mostrar a curva da cintura e pronto, estavam feitos os vestidos, não
tinha um babadinho, um bico, nenhum modelo, as vezes o abainhado saía até
alinhavado porque não dava tempo...
TENHO
QUE PARAR ... VOLTEI HÁ 50 ANOS NO TEMPO.
Obs: Essa não é uma obra de ficção é um pedacinho de minha vida.
18/08/19
0 comments:
Postar um comentário
MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS A TODOS OS LEITORES ESPECIALMENTE AOS MEUS COMENTARISTAS.